sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

desafio de escrita dos pássaros #2.2


- Então, filha, já namoras? Vê lá se te despachas, não fiques para tia, se bem que no teu caso ficar para tia dava jeito a muita gente, os teus 6 sobrinhos até agradeciam e...

- Ai avó, não te chego eu, só assim, tua neta? 


- Pois, chegarás... Mas companhia para aquecer os pés também faz falta. Ó Julinha, não me digas que gostas de mulheres. Se é isso, ó filha, eu também me habituo à ideia e assim como assim era ela quem te aquecia os pés. 


- Prefiro homens, avó - ri-me. Há até um bem giro com quem me cruzo quando vou às consultas de dermatologia. 


- Ah, conta-me tudo! Afinal há moiro na costa. Espera lá, ainda se pode dizer "moiro na costa"? É que com isto do politicamente correto eu nem me atrevo a dizer provérbios! Chiça, no outro dia a Laurinda dizia "pois, toda a gente acha que a vaca da vizinha é mais gorda que a minha" e foi logo um ai jesus, que ela tinha chamado vaca à que mora lá ao lado, já nem me lembro do nome... Mas e então, esse tal mocinho, é jeitoso, bonitinho? E o que faz da vida? 


- É médico, avó.


- Ai cruzes, credo, filha. Mais vale só do que mal acompanhada! É que isso de médicos... nunca fiando. Acham sempre que sabem tudo e vai-se a ver e não sabem nada e lá andamos nós de cangalhas e quando damos por ela já temos um pé na cova e o outro quase lá a entrar. São os médicos e os padres – são cá uma raça!


- Então, mas desde quando é que os padres podem namorar?

- Pois, poderem não podem, mas vão namorando. Olha-se para eles, não partem um prato, é só água benta e o sinal da cruz, o tercinho na mão e o pai nosso na goela sempre pronto a debitar. Mas a verdade é que por um rabo de saias aquela batina já levantou mais vezes do que disseram a missa. Que tristeza…


3 comentários: