terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Parabéns




 Tez morena e olhar de galã. Não sei o que teria ele visto em mim - se a presa fácil e desprotegida que eu era, se a fêmea sedenta de sexo e amor. Sexo e amor? Não. Sedenta de sexo. Só.
Pagou-me o chá gelado de melão que eu bebericava e saudou-me - não a tenho visto por aqui.
Pensei - mas alguma vez me viste por aqui? Limitei-me a sorrir e a agradecer. Depois lembrei-me dos conselhos da J - tens de te soltar, não podes ser tão rígida, se te apetece fazer uma loucurazinha, avança. Ir para a cama com o desconhecido - qual seria o tamanho da loucura? Seria razoável? Fiz uma comparação absurda - quando não consigo dormir prefiro tomar um ansiolítico que me ajude a fazê-lo do que aguentar a ressaca de não dormir. O desconhecido seria o meu ansiolítico desse dia. Preferia-o à ressaca da solidão no meu dia de aniversário. Avancei. Hesitava mas não o demonstrei. Nunca tinha tido um caso. Não sabia se ele era casado, solteiro, viúvo. Até podia ser padre. Pouco me interessava.
- Olá. Está bom? Também não o tenho visto. Este calor arrasa comigo.
- É uma pena a esplanada não ter ar condicionado.
Rimos os dois da piada sem graça alguma e ele avançou - No átrio do hotel servem um crepe de gelado fantástico. Aposto que refrescávamos.
Não respondi. Levantei-me e dirigi-me para o hotel. Ouvia os passos dele logo atrás de mim. Senti o seu cheiro transportado na brisa ligeira que me despenteou.
Sem palavras, dirigi-me para o elevador. A porta fechou-se e ele percorreu a minha boca com a sua língua. Deixei-me afogar nas mãos dele.
Não sei que parte de mim perdi, nem que parte de mim encontrei naquele dia. Não sei se fui feliz durante uma hora ou durante uma tarde.
Gostei. Sem medos, nem cartilhas. Só dois corpos num desejo.