segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Histórias quase felizes

A Joana chegou já tarde. A cozinha estava por arrumar, os sapatos no chão, o gato miava com fome e a luz da televisão, por desligar, inundava a sala. Ele dormia na cama, ressonando.
- Acorda, temos de conversar - disse, batendo-lhe ao de leve no ombro.
- Hmm? Agora? Deixa-me dormir.
- Estou grávida.
- Que raio de hora para me dizeres isso - rosnou entre dentes enquanto tentava despertar. Não sabias ter cuidado? Não quero ter filhos, gritou.
- Mas porque gritas comigo? E o teu cuidado? Avisei-te que não tomava precauções. Disseste que pouco importava porque era a mulher da tua vida. Mudaste de ideias?
- Não. Não sei. Não achei que acontecesse tão depressa. O que pensas fazer?
- O que penso? Não deveríamos pensar os dois?
- Tu é que estás grávida, não eu.

A Joana emudeceu. Sentiu a nova vida dentro dela esvair-se. Quis morrer e nascer de novo num local distante, longe do mal que ele lhe fez mas perto do filho que ía nascer. Saiu e não voltou.

Quero, mas não me apetece


Sei que é estranho mas é assim que sinto - quero fazer mil coisas, mas não me apetece.

Quero escrever, mas falta-me a vontade.
Quero arrumar o escritório, mas falta-me a vontade.
Quero cozinhar, mas falta-me a vontade.
Quero enviar CV's, mas falta-me a vontade.
Quero ir ao ginásio, mas falta-me a vontade.
Quero ter vontade de tudo fazer, mas falta-me a vontade.
Vou esticar o prazo mais uma semana e obrigar-me a arrancar. À semelhança das dietas, a minha vontade vai arrancar sempre amanhã :))

Raios, quero namorar, não me falta a vontade mas falta-me o namorado!!! Quero renovar o guarda-roupa, não me falta a vontade mas falta-me o dinheiro!!!

Oh Céus, por favor, entreguem-me pacotes de vontade... E, já que peço, que venha também o Euromilhões e o namorado para pertinho de mim... Pedir por pedir, que seja em grande.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Eu, Tu, Nós


Escrevo-te num abraço apertado de quem sabe que não te tinha e agora não te quer perder. Os medos são maus conselheiros e embora haja quem os ache sensatos, a mim, parece-me apenas que nos impedem de viver. O nosso destino, a nossa história, a nossa vida também têm de ser escritos por nós.
Construímos muros, tu e eu, em tempos de guerra fria em que o mundo não nos sabia amar. Convencemo-nos que não precisávamos do outro, mas o que fazíamos era somente arranjarmos a desculpa para seguirmos sozinhos e não nos sentirmos pressionados a depender de alguém.
Mas, amar é bom. E a união a que nos entregámos é o sentimento mais sincero que já vivi. Já não sinto a loucura da paixão, nem o medo de te perder. Sinto cada minuto a dois com uma calma e uma certeza que julgava não existirem. E se julgas que a distância é traiçoeira, enganas-te. A proximidade fictícia é que o é.
Sei que a estrada não acaba já ali e que jamais será em linha recta. Sei que o tempo se encarregará de nos contar o fim da história.
E sei que não abdico de ser feliz ao teu lado, apenas e só, porque até agora o amor me atraiçoou.

E agora?


E agora, o que faço nas horas livres do dia? O que faço depois de entregar os miúdos nas escolas?
Não me sinto perdida. Não me sinto triste. Não me sinto sem rumo.
O meu receio é que todos esses sentimentos ainda venham a acontecer.

Advogados, leis, dinheiros, falta de escrúpulos, más consciências. Não me posso esquecer de tudo isto e sei que tenho de me manter alerta. Quanto tempo durará o processo? Irá para tribunal? Chegaremos a acordo? Dúvidas a preencherem-me os dias. Dias que quero tentar viver em paz, procurando emprego e mantendo-me sã.
Vou abusar da boa vontade de amigos, enviar C.V.'s, estabelecer contactos. Numa palavra - desenrascar-me. Dizem-me que costumo ser boa nessa tarefa. Desenrasquei-me no divórcio, desenrasquei-me ao comprar carro (quando entrei pela primeira vez num stand senti-me um alien!) e desenrasco-me a gerir as crises diárias. Dito assim, numa penada, parece pouco. Mas não é...
E quero acreditar que vou ter sorte. Acredito que, um dia, o cenário de uma vida pode mudar. Se sempre fui mal-amada, acredito que agora o vou ser bem. Se não tenho tido sorte no emprego, acho que agora vou ter.
A pergunta é: estou a ser optimista ou realista? Optimista, é claro!!

Mas enquanto o optimismo durar é mais fácil seguir em frente de cabeça erguida!