sexta-feira, 27 de abril de 2012

Os filhos perdidos


Manel, levanta-te da cama!; Oh mãe deixe-me dormir…; Manel, levanta-te que perdes o emprego; Oh mãe que se lixe o emprego; Mas filho, sem emprego não há dinheiro e sem dinheiro não há pão; Oh mãe, que se lixe o emprego e o dinheiro. O dia de amanhã há-de ser igual; Como Manel, como? Grita a mãe. Arranca-lhe a roupa da cama e lembra-se de quando o tirava da cama para ir para a escola, estremunhado, de quando lhe dizia que era importante estudar para não acabar na prisão como o pai. O Manel não se lembra, tem outros fantasmas – a droga, os amigos que desapareceram em rixas, o frio da sala onde se assustava com os colegas mais velhos e maus que o marcavam de medo e vergonha.

Noutra cama, noutro quarto, noutra casa, noutro bairro, Luísa acorda assustada com o toque do telefone. Dormiu pouco, acordada pela ausência do filho que tentou contactar toda a noite. Onde anda? Como estará? Atende o telefone inquieta e a voz da senhora pergunta-lhe: é a mãe do João Maria? Sim, responde. O que aconteceu? Está internado no hospital, consequência de um acidente. Está vivo? Pergunta sem coragem… Está… responde-lhe a senhora da voz que se apaga a seguir… mas por pouco tempo, pensa. Coitada, mais uma a chorar para toda a vida.