sábado, 19 de março de 2011

Filho

Sinto que te faço crescer depressa demais. Ralho-te. Educo-te. Amo-te. Dou-te beijos e faço brincadeiras parvas. Quero ver-te feliz mas ponho-te de castigo quando te sinto baixar os braços às contrariedades da vida.

Diz-me: exijo demais de ti? Se calhar exijo. Penso muitas vezes que tenho de te deixar ser criança. E és, pois és? Tens brincadeiras tolas e casmurrices que bradas do alto dos teus oito anos. És meigo e sensível. E há dias em que a tua teimosia me leva à loucura. Dizes-me - a minha irmã é insuportável - mas os teus olhos doces dizem-me - não sei viver sem ela.

Hoje é dia do Pai. Mas o que sinto é que nesta casa só tu tens pai. A mãe, eu, sempre presente na vida dos dois, por vezes deixa-se atingir pela revolta e tu, meu Amor, tu perguntas-me: Mãe, estás zangada comigo? Não filho. Por vezes estou zangada com a vida. E tu, que me és o mais próximo, sentes-me triste e zangada.

Não quero falhar como Mãe. Não te quero falhar como Mãe. Sei-te pedir desculpa mas sinto-me imperfeita. Talvez também exija demais de mim, entendes-me? Quero ser a Super Mulher - a que trabalha e educa, a que assegura uma vida serena, feliz e responsável.


O beijo que aqui te deixo, e que provavelmente nunca lerás, é do tamanho do mundo - como dizíamos quando eras mais pequenino. Respeito-te, filho, pela criança que hoje vive em ti e pelo Pai que, um dia, serás.