quinta-feira, 24 de outubro de 2019

- hmmm, disse sexo?! -

Numa das tradicionais consultas de acompanhamento das minhas maleitas, e porque se falava da possível evolução da doença, o reumatologista comentou "olhe, e tem sorte com o sexo".
Ouvi a frase mas julguei ter ouvido mal. Sexo? Ele disse "sexo"? Não... Não pode... 2, 3, 5 segundos e eu sem saber o que responder. Emiti um "ah, pois..." abafado, enquanto na minha cabeça se formulavam n hipóteses. Muito sexo, pouco sexo? Mas do que raio fala ele? O que sabe ele sobre este assunto e a minha pessoa? Oh céus...

Afinal a explicação era outra: a minha sorte é ser mulher porque no sexo masculino a doença tem tendência a evoluir mais rapidamente e com consequências mais graves.

Confirma-se: sempre gostei de ser mulher  😊

- as palavras que me cansam -

Cansam-me as palavras.

Nestes dias de outono, que se arrastam ao sabor do primeiro friozinho, cansam-me as palavras. As que digo e as que apenas penso, mas julgo que me cansam, sobretudo, aquelas que, embora dizendo, não se materializam em atos nem em pequenas alterações . De mão dada, bem dentro de mim, há vontades contraditórias, desejos que não tenho força para pôr em prática e um inconformismo conformado que me irrita.

Caio sempre na esparrela da vidinha quando, mesmo sabendo que quase tudo está bem, quase tudo me parece estar mal.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

- por aí eu não vou -

Amar também é saber gerir a tristeza que as pessoas que amamos nos podem provocar. Frases que doem e que ribombam cá dentro sem parar. Frases que nos fazem questionar qual é o caminho certo a seguir. Não tenho medo do futuro a "uma só voz". Que ninguém duvide que eu "canto" bem sozinha. Que ninguém duvide que seria apenas mais uma batalha. Sobretudo, e mais importante, que eu nunca duvide da minha capacidade de saber ultrapassar essa dor.
Que não me atirem frases feitas para se esquivarem às minhas observações. Que não me tentem convencer do contrário do que para mim é óbvio. Que não façam de mim a má da fita.
Que não me digam que mentir é válido, que não me digam que omitir é válido. Que não me encostem à parede porque eu abro uma nova porta onde nunca se sonhou poder haver uma.
Que não me obriguem a gostar do que não gosto, que não me obriguem a ser o que não sou, que não me tentem sequer fazer sentir que sou intelectualmente inferior. Eu não tenho de demonstrar nada a ninguém e não sou tapete para doutos pés pisarem.
Eu não sei o que o futuro me reserva - mas eu sei o que não deixo que o futuro me reserve. Porque o passado foi a maior lição da minha vida e eu sempre fui boa aluna.
Passo a passo, eu chego lá. Seja aonde for e de cabeça erguida.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

- amor de Verão -

Galiza, Verão 2018

Não sei que poder ou que feitiço se apoderou de mim (ou de nós) durante aqueles dias, mas acho que cumpri o que sonho para a vida: amar e passear sem horas nem constrangimentos.

Deixámos fluir e seguimos o caminho que se foi traçando ao som do mar.

Lembro-me da sensação de paz na praia de Trece, da imensidão do areal na praia de Carnota, do quarto acolhedor em Camarinas, dos faróis imponentes, do mar a tornar-se neblina quando beijava as rochas, da casa do varandim azul em Porto Barquero, da Garita de Herbeira onde o oceano Atlântico namora o Mar Cantábrico, do sabor a mar e limão nos dedos lambidos, do braço que se fazia abraço ao meu redor.

Pudesse eu reviver uns dias da minha vida e escolheria estes - tão simples, tão genuínos, tão nossos

💗