quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Pobres Anónimos

Sento-me a escrever sobre mim e se calhar sobre ti. Sento-me a escrever a dor de saber existir uma nova realidade, um novo grupo, um novo medo, uma nova vergonha.

Não há dia sem pensar naquilo em que me transformei. Não há dia sem pensar nas escolhas erradas que fiz. Não há dia em que não inveje a segurança dos outros. Não há dia em que não tente esquecer tudo isto. Sou pobre. Mas anónima.

Anónima aos olhos de quem me acha feliz. Anónima aos olhos de amigos que se esquecem de perguntar como estou, se preciso de alguma coisa. E vou-me fragmentando, dia após dia, em pequenos gestos e conversas, em carências e pedidos de ajuda desajeitada - porque nunca soube pedir. Porque nunca precisei de o fazer.

É esta pobreza disfarçada de tantos que confunde a sociedade. Antigamente a pobreza via-se na falta de cultura, nas roupas gastas, nas unhas sujas das crianças, na conversa de café. O que dantes era "sinal exterior de riqueza" não passa agora de um passado que ainda nos ajuda a manter as aparências. Mas toda a vida as aparências iludiram. E agora, mais do que nunca.

Eu sou pobre. E tu? Guardas pelo menos a riqueza da tua alma?